Aprendendo com pessoas que precisam de Cuidados Paliativos
Diretora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, a médica Maria Goretti Maciel explicou que aprende todos os dias e vai continuar aprendendo, não só com pessoas no fim da vida, mas com todas as pessoas envolvidas no tratamento, porque esta é a questão dos Cuidados Paliativos.
Para ela, a primeira preocupação a ser pensada é no conceito. Há alguns anos, quando falava de Cuidados Paliativos, dizia-se que fazia este modelo de atendimento quem tinha conceitos e princípios muito claros para atender todas as pessoas. “Eu vou muito além, não é só o conceito, é o sentido, o que significa paliar alguém, estar ao lado de alguém. Esta deve ser a nossa primeira missão”.
A palavra paliativo vem de pallium, no latim, que significa manto, proteção. É aquilo que pode ser feito para proteger alguém do sofrimento de ter a vida ameaçada ou de estar em situação de vulnerabilidade. “Cuidado Paliativo não é um diagnóstico em si, é uma abordagem, uma forma de tratar e isso é muito importante para afinar uma linguagem para saber de fato o que é essa prática. Nós somos o abrigo um do outro. Este é o sentido maior dos Cuidados Paliativos. Trata-se de uma relação humana, onde eu não sou melhor que ninguém. Nós somos iguais, somos um para o outro”, afirma Goretti.
Medicina Paliativa não é Medicina de protocolo, é de detalhes. Quando os profissionais de saúde se reúnem para discutir o caso de um paciente é preciso, antes de tudo, descrever aquela pessoa, suas doenças, tratamentos pelos quais passou, as queixas e as necessidades dela. Colocar o maior volume de detalhes nas fichas. Só assim é possível chegar a uma visão global do caso que possibilita cuidar bem daquela pessoa.
Para Maria Goretti Maciel é preciso trocar o paradigma da comunicação. “A boa comunicação significa parar e ouvir o que o outro (paciente ou familiar) compreende, como ele compreende e como eu posso ajudá-lo a enfrentar aquilo que ele compreende. Mudando estas coisas profundamente é que se começa, de fato, a fazer Cuidados Paliativos”. O Cuidado Paliativo só começa a ser feito quando as pessoas saem do próprio umbigo e colocam o outro em evidência. O paciente que está à frente e requer cuidados é o mais importante, a necessidade é a dele.
“Se o profissional entende o doente, se faz um bom diferencial, domina uma meia dúzia de bons medicamentos, do ponto de vista prático, técnico e terapêutico, tudo correrá bem. Quanto à complexidade do tratamento, é preciso que o trabalho seja feito em equipe, sem supremacia de nenhuma profissão ou de nenhum profissional. Pode existir uma liderança, o que é diferente, mas não supremacia. É preciso conversar e trabalhar de igual”, esclarece a médica.
Maria Goretti encerrou salientando a importância do cuidador se cuidar antes de cuidar do próximo, porque para que possa fazer isso é preciso que ele esteja bem.
Maria Goretti Maciel é diretora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, membro da Câmara Técnica sobre Cuidados Paliativos do Conselho Federal de Medicina e um dos fundadores da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. E esteve entre os palestrantes nacionais do VII Congresso Internacional Cuidados Paliativos da ANCP, realizado entre os dias 21 e 24 de novembro de 2018.