As terapias de luto
O luto é um processo natural, embora temido, porque ninguém quer perder um ente querido. No entanto, ele é inevitável – parece impossível não sofrer em maior ou menor grau diante da morte. “O luto é um processo normal de elaboração e, embora seja universal, apresenta singularidades, porque cada pessoa passa por ele de uma forma”, diz Maria Júlia Kovács, psicóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte do Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Embora não seja uma novidade, a terapia de luto tem sido mais divulgada pela imprensa e chegado ao conhecimento do público em geral. Há diversos tipos dessa terapia dentro das abordagens psicológicas. Algumas centradas nas etapas do luto, conforme definido por John Bowlby, e as tarefas do luto, segundo J. William Worden. “Além dessas, há outras mais vinculadas na elaboração psíquica da perda sem tarefas estabelecidas”, explica Maria Júlia. “Todas podem ser boas a depender das necessidades da pessoa enlutada”.
E ainda que o indivíduo tenha consciência de que o luto é natural, ele pode ser mais complicado para alguns. A terapia de luto é indicada, portanto, para aqueles nos quais o processo de luto traga muito sofrimento, adoecimento ou até risco à própria vida. “Há pessoas que vivem perdas que podemos chamar de ‘mais difíceis’, como a morte de filhos, suicídios, mortes repentinas ou com violência”, diz a especialista. Importante ainda salientar que, como toda psicoterapia, é necessário que a pessoa queira passar pelo processo – não adianta ser por pressão da família.
O tempo, embora costume ser para a sociedade um balizador da intensidade do luto, não é um marcador determinante. “Não podemos falar sobre sair do luto, pois é um processo que poderá ser vivido em vários momentos da vida e com intensidade diferente. Além disso, cada pessoa também tem seu modo singular de vivê-lo”, afirma.
Fases do luto – John Bowlby
Segundo o autor, podem acontecer não necessariamente nesta ordem e não têm tempo determinado.
1) Entorpecimento ou choque – o indivíduo pode ter acessos de raiva, ao mesmo tempo que não consegue acreditar ainda na perda
2) Anseio e busca – Também pode ter raiva manifesta, aflição, choro, e é uma fase em que o enlutado começa a achar que o falecido por estar dando sinais, ou que algo pode fazê-lo voltar.
3) Desorganização e desespero – Sensação de que não é possível seguir com a própria vida. Pode haver desejo da própria morte.
4) Reorganização – A perda começa a ser aceita
FONTE: BOWLBY, J. – Apego, perda e separação. São Paulo: Martins Fontes, 1985
Tarefas do luto – J. William Worden
Tarefa 1 – Aceitar a realidade da perda
Tarefa 2 – Elaborar a dor da perda
Tarefa 3 – Ajustar-se a um ambiente em que está faltando a pessoa falecida
Tarefa 4 – Reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e continuar a vida
Fonte: WORDEN, J. W. Terapia do Luto. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.