Até o fim: como os cuidados paliativos ressignificam a morte
Portal Minha Vida Por: Tatiane Gonsales
Cinquenta e cinco dias separaram o diagnóstico e a morte de Carlos. Com o diagnóstico vieram o medo, a insegurança e a sensação de incapacidade. Mas, com a morte, surgiram alívio, conforto e gratidão – sentimentos que só foram possíveis graças ao programa de cuidados paliativos que recebeu.
Carlos exibia sorrisos e esbanjava saúde no auge de seus 58 anos. Só que as cores de sua face, sempre tão vivas, começaram a dar lugar a uma pele amarelada. Foi assim que descobriu que estava com um câncer agressivo que, até hoje, sete anos após sua morte, não sabem ao certo em qual órgão surgiu.
“Sabíamos que ele iria morrer logo. Aquela angústia de ver meu amor sofrer e nossa vida de casal, de quase 50 anos juntos, se esvaindo foi adiantada. Você vê que não tem alternativa, quer que todo o sofrimento acabe logo”, diz Bia Marangoni, esposa de Carlos.
A verdade é que a notícia de uma doença sem cura e progressiva dói. Em Carlos e sua família, doeu mais do que o próprio câncer, já que o psicanalista não sentia nenhum tipo de desconforto, mesmo estando com uma enfermidade em estágio avançado. Era como uma vela que ia se apagando, dia após dia.
Na tentativa de reduzir o sofrimento de todos os envolvidos, médicos sugeriram o tratamento por cuidados paliativos e a família resolveu aderir.
“A gente vive como se nunca fôssemos morrer, como algo que parece distante. Quando você vê a morte chegando, o mundo cai sobre sua cabeça. E com os cuidados paliativos, acabamos vendo a morte como ela é: que ela existe, que pode ser imprevisível e, principalmente, que pode ser um alívio”, ressalta Bia.
A aposentada diz que foi a melhor decisão que poderia ter tomado. Foi montada uma estrutura em sua própria casa para atender às necessidades do marido, que não queria mais ficar no hospital.
Médicos paliativistas faziam visitas, medicavam, tratavam, conversavam e ligavam ao menos três vezes por dia, para acompanhar a saúde física, mental e espiritual de Carlos. Além disso, toda a família também contava com amparo psicológico.
“Um dia ele estava agitado, perturbado, num domingo à noite e chuvoso. Não sabíamos o que fazer, fiquei desesperada. A psicóloga veio sem medir esforços e isso nos comoveu muito”, conta a esposa.
Durante esse período, compreenderam que a morte era um fato e colocaram as cartas sobre a mesa para romper o tabu de se falar sobre o assunto. Com os cuidados paliativos, conseguiram rever toda a trajetória da família, rompendo ressentimentos, acertando contas, discutindo sobre o futuro e até definindo o velório.
Cada um estava com sua dor, mas tranquilos por Carlos não ter sentido incômodo algum em sua partida e ter ficado consciente até o último suspiro.
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