O atendimento à dor em Maputo, Moçambique
A convite do Hospital Central de Maputo, a médica e paliativista Sabrina Ribeiro, coordenadora do comitê de Emergência da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) visitou a Unidade de Dor do hospital e acompanhou alguns atendimentos, realizados pela médica anestesiologista Murghe Jamú.
A Unidade de Dor é uma referência nacional e atende em torno de 2 mil pacientes ao ano, sendo a lombalgia a queixa mais comum , seguida por dor neoplásica e dores neuropáticas. Sabrina informa que a procura vem crescendo e também a proporção de pacientes com neoplasias. “Destes, 90% chegam com dor caracterizada como severa, que tem grande impacto tanto na funcionalidade como na qualidade de vida dos pacientes” explica a médica.
A unidade conta com vários consultórios e uma sala onde são realizados procedimentos como bloqueios e peridurais. Segundo a médica, também estão disponíveis para os pacientes acupuntura, atendimento psicológico individual e em grupos e ozonoterapia, sendo ofertada uma abordagem multidimensional ao tratamento da dor. “O hospital fornece a medicação para o tratamento da dor, sendo disponibilizados codeína, tramadol, morfina em apresentação convencional e de liberação prolongada”, pontuou.
Segundo Sabrina a médica Murghe lhe explicou que eles não dispões de metadona ou oxicodona, mas ocasionalmente recebem doações e priorizam pacientes que usam altas doses de morfina e que podem se beneficiar da rotação de opioides. “Não existe grande dificuldade burocrática para a liberação de analgésicos e a população no geral tem boa aceitação da prescrição de morfina e seus derivados” explica.
A médica conta que durante sua visita observou que alguns pacientes em atendimento eram entrevistados por estudantes de enfermagem, que se especializavam em anestesiologia. As queixas dolorosas, segundo observou, eram avaliadas de forma detalhada, com o uso de diagramas do corpo para que os pacientes identificassem de forma mais precisa o local da dor, além de escalas visuais para avaliação de sua intensidade. Após a passagem do caso, o estudante sugeria um plano terapêutico para o paciente, que era revisado pela Dra. Murghe. “Murghe afirmou que há grande necessidade de atendimento à dor em áreas remotas. Que formação de enfermeiros com alto grau de capacitação, aptos a realizar variados procedimentos é uma alternativa para levar este atendimento aos que dele necessitam” explica.
O hospital não dispõe de uma equipe de Cuidados Paliativos, porém tem profissionais em processo de capacitação em Portugal. Neste meio tempo, a Unidade de Dor tem funcionado como referência para pacientes com necessidade de Cuidados Paliativos.