Os desafios e aprendizados do Cuidado Paliativo no sistema de saúde
A rotina hospitalar e seus desafios, a importância dos protocolos e a necessidade de pesquisa na área são pontos de grande relevância para Fernando Kawai, médico paliativista que atua na liderança de uma equipe de Cuidados Paliativos nos Estados Unidos, país onde o tema está bem mais desenvolvido tendo atualmente mais de 80% dos hospitais com equipe paliativa. Segundo o especialista uma questão de grande valor é a composição da equipe. Onde atua, o quadro de colaboradores é formado por médicos, residentes, enfermeiros, capelão, assistente social, farmacêutico e voluntários que desenvolvem diversas atividades como música e crochê, com objetivo de fazer companhia aos pacientes.
Nos últimos quatro anos, Fernando informou que foram 537 situações paliativas: “A primeira coisa é o controle dos sintomas. Não tem como discutir objetivos e cuidados ou acolher a família se os sintomas não estão controlados”, destacou. Ele também alertou sobre a importância da equipe saber identificar sintomas e dores. Um exemplo, são os casos de pacientes com demência, que muitas vezes podem estar sofrendo e não pedem ajuda.
Para o paliativista uma das etapas do trabalho que causa desgaste psicológico são as reuniões com as famílias. É neste momento que é informado o prognóstico do paciente e a sugestão do Cuidado Paliativo. “As consultas demoram em média duas horas e há um desgaste emocional, por isso temos um cuidado com a nossa equipe. Fazemos reuniões só para desabafar e também atividades sociais. Nosso número de consultas saltou de 200 por ano em 2010 para 1100 consultas anuais”, destacou.
Fernando apresentou um trabalho que ele e sua equipe desenvolvem para melhorar a qualidade e comprovar em números os benefícios de sua atuação. Ele também destacou a importância do envolvimento dos colegas de trabalho, que foi uma das barreiras que ele encontrou no início, mas que com o tempo passaram a valorizar o trabalho de Cuidados Paliativos.
Uma das sugestões deixadas pelo profissional é de se elaborar, com base na revisão de literatura, um documento com o protocolo da instituição. “Apesar de o mundo estar cheio de sofrimento, ele também está cheio do alívio. Acho que o movimento paliativo é sobre o alívio do sofrimento, mas temos de fazer isso por meio de protocolos institucionais, medicina baseada em evidência, compaixão, arte e educação”, finalizou.
Fernando Kawai é Diretor do Programa de Cuidados Paliativos do New York Hospital Queens – Cornell University, Participante da Divisão de Geriatria e Cuidados Paliativos. E esteve entre os palestrantes internacionais do VII Congresso Internacional Cuidados Paliativos da ANCP, realizado entre os dias 21 e 24 de novembro de 2018.