Direito à despedida
Rev. Piauí Por: Mônica Manir
Uma morte silenciosa, sem conforto, sem aviso, sem funeral.” A italiana Chiara Borsella resume assim a partida do tio-avô Armando Severini, 88 anos, no dia 24 de março. Severini nasceu com deficiência auditiva. Vivia no campo e ao longo da vida desenvolveu uma linguagem gestual que só os mais íntimos entendiam. Em Recanati, na província de Macerata, miolo da Itália, ele cuidava da horta da família e frequentava um bar perto de um clube de idosos. Havia pouco tempo que um amigo do bar morrera de coronavírus quando Severini caiu doente, no dia 15 de março. Tinha febre, sem tosse, e o médico indicou um antibiótico. Durante a semana a febre chegou a ceder. Mas no sábado atingiu o pico de 39ºC e, no domingo de manhã, ele já não conseguia levantar. A família chamou uma ambulância, e Severini foi internado com insuficiência respiratória no Hospital de Civitanova, nas Marcas. Foi diagnosticado com covid-19, mas, segundo a sobrinha-neta, os boletins recebidos dos médicos por telefone indicavam que o caso não era dos mais graves. Por dois dias a família nutriu a esperança de enviar uma mensagem por vídeo tentando confortá-lo, em vão. Não havia tablets nem celulares disponíveis. “Embora muito corajoso, ativo e inteligente, ele deve ter se sentido profundamente só, ainda mais com médicos e enfermeiros usando aquelas máscaras. Para ele, a expressão visual e a leitura labial eram fundamentais”, lamenta Chiara. O italiano foi sepultado no túmulo da família sem a presença de nenhum parente, todos de quarentena por causa do teste positivo do tio-avô. A sobrinha continua aflita porque não há exames disponíveis para a irmã diabética e a avó cardíaca, que conviviam com ele. “Ligamos várias vezes pedindo o teste, mas não tivemos resposta. Toda essa falta de retorno é muito dolorosa.”
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