Eu posso escrever o final da minha história
Especialista em cuidados paliativos destaca a importância de escrever um documento sobre suas vontades no fim da vida
Por Dr. Douglas Henrique Crispim*
No ano passado, em uma enfermaria do hospital onde eu trabalho, estava conversando com a filha de um paciente sobre a doença de seu pai. Ela me contava os detalhes do que aquele senhor que estava imóvel à nossa frente havia passado. Segundo ela, era um homem ativo, que gostava de dançar, ouvir música e de almoçar e jantar com sua família.
Num desses jantares, ele sofreu um mal súbito e foi levado ao hospital. Sua doença desde o início já apontava um risco enorme de que aquela situação jamais seria revertida para o normal. A partir daquela noite, nunca mais essa família veria o pai alegre das festas e dos jantares.
Olhávamos para o paciente e imaginávamos toda a trajetória dele desde aquele infortúnio de três meses atrás. Ele fora levado para a unidade de emergência e, de lá, para o setor de terapia intensiva, onde recebeu tudo o que a medicina pode oferecer. Os melhores tratamentos, os melhores aparelhos…
Ainda assim, hoje aquele homem já não se comunica, não consegue expressar suas vontades e depende completamente de um aparelho para respirar, além de pessoas para aliviar suas necessidades de higiene mais básicas. Isso sem contar os medicamentos e a dieta por uma sonda implantada em seu estômago.
Após revisarmos essa história, a filha chorou bastante e disse que, se seu pai pudesse falar naquele momento, certamente teria escolhido não viver todo aquele sofrimento para, no fim das contas, tornar-se dependente de outras pessoas em uma situação irreversível. Ela então olhou para mim e perguntou se seria possível termos feito algo diferente.
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