Idoso com doença crônica tem dificuldade de atendimento
Por Júlio Bernardes / Agência USP
Entre idosos portadores de hipertensão e diabetes em São Paulo, 26,8% disseram ter dificuldades de acesso aos serviços de saúde, revela pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP). O trabalho da pesquisadora Marília Louvison mostra que os problemas relatados, na maioria dos casos relacionados a baixa qualidade dos serviços percebida pelos idosos, acontecem tanto no sistema público quanto no atendimento privado. No entanto, entre os que possem plano de saúde, 17,6% reportaram dificuldades, índice que chega a 42,4% no serviço público.
É preciso maior atenção ao idoso nos sistemas público e privado de saúde“Este número reflete uma maior desconfiança no sistema oficial de saúde, mas os problemas de acesso, como marcação de consultas para controle das doenças, acontecem de modo significativo em ambos os setores”, diz Marília. “A mesma dificuldade não foi apontada quanto ao tratamento, considerado satisfatório nos dois serviços”. O estudo recomenda que os sistemas públicos e privados de saúde aprimorem a atenção aos idosos, devido ao crescente envelhecimento da população brasileira e a alta prevalência de doenças crônicas.
De acordo com a pesquisa, o uso de medicamentos é equiparado entre os pacientes públicos e privados. “Tanto nos casos de fármacos de última geração quanto daqueles mais indicados pelos protocolos de atendimento, o acesso é semelhante no Sistema Único de Saúde [SUS] e na saúde suplementar”, aponta a pesquisadora.
A pesquisa utilizou os dados do estudo latino-americano Saúde e Bem Estar no Envelhecimento (SABE), com a participação da FSP, que entrevistou em São Paulo 2.143 idosos em 2000, e 1.115 em 2006. “É um estudo epidemiológico longitudinal , ou seja, de coorte”, conta Marília. “Os mesmos idosos entrevistados em 2000 voltaram a ser procurados cinco anos depois, para verificar a evolução das doenças, se houve incapacidade funcional, o surgimento de novos casos e o índice de mortalidade”.
Proteção
A prevalência de hipertensão entre idosos subiu de 53,1% em 2001 para 65.3% em 2006. “Observou-se que o incremento da doença está relacionado com a condição socioeconômica, sendo que a maior renda funciona como fator protetor”, diz a pesquisadora. O número de portadores de diabetes aumentou em cinco anos de 16,8% para 22,8%. Entre os portadores das duas doenças, 48,9% possuem plano de saúde. “Em ambas as doenças, o maior número de casos é verificado nas mulheres, embora o número de doentes tenha aumentado entre homens, que apresentam um índice de mortalidade maior”.
O estudo não identificou diferenças significativas de mortalidade e incapacidade funcional. “Apenas entre os idosos que não possuíam saúde suplementar, houve uma queda de desempenho relativa a atividades instrumentais da vida diária, tais como fazer compras, lidar com dinheiro ou sair de casa”, diz Marília. A pesquisa teve orientação da professora Maria Lúcia Lebrão, da FSP.
Os resultados da pesquisa mostram que os serviços públicos e privados de atendimento à saúde não estão preparados para atender a crescente prevalência de doenças crônicas em idosos. “Tanto o acesso quanto a continuidade do cuidado para idosos hipertensos ou diabéticos, não estão acontecendo de forma adequada”, destaca a pesquisadora. “Isso pode fazer com que essa população viva mais tempo mas com pior qualidade de vida”.
Marília alerta que tanto os sistemas públicos quantos os privados precisam se organizar rapidamente, diante do acelerado envelhecimento da população, para gerenciar melhor o cuidado e a atenção às condições crônicas em idosos. “É necessário melhorar o acesso e o controle das doenças, respeitando as necessidades do idoso e contribuindo para melhorar sua qualidade de vida, tanto na atenção básica quanto nas consultas com especialistas”, ressalta. “Ao mesmo tempo, deve-se reforçar as iniciativas de prevenção tanto da hipertensão e da diabetes como de suas complicações, para que a população possa envelhecer com mais saúde, de modo a evitar a sobrecarga dos serviços médicos e reduzir a mortalidade precoce, especialmente entre o sexo masculino”.
(publicado pela Agência USP em 8/09/2011)