A importância da comunicação em Cuidados Paliativos entre equipes médicas, paciente e familiares
Para Rachel Duarte Moritz, especialista em medicina intensiva e paliativista, em sua vivência na Interface entre equipe de Cuidados Paliativos e de UTI, as famílias de pacientes vivem um estresse intenso, o que torna a comunicação mais difícil dentro da UTI. Segundo ela existem fatores que influenciam negativamente os cuidados dentro da UTI. Isso faz com que as famílias tenham um luto difícil e mais problemático, além de deixarem recordações ruins, como a reanimação no final da vida, o uso da ventilação mecânica, a morte do idoso dentro da UTI, e o tratamento prolongado, mas há formas de tornar a experiência menos traumática. “Recordações positivas podem ser obtidas com uma comunicação com honestidade, precisão, com apoio e reunião com as famílias, tomada de decisões compartilhadas e a retirada escalonada de suporte de vida, além de um ambiente de UTI com flexibilidade de horários”, explica Rachel Moritz.
Segundo a geriatra Laiane Moraes Dias, em sua experiencia na Interface entre equipe de Cuidados Paliativos e geriatria, atualmente existem 40 milhões de pacientes que precisam de Cuidados Paliativos, sendo 70% deles, idosos, e a maioria com doenças crônicas que levam anos de evolução (algumas até mais de 10 anos). Ela informou que é necessário um manejo das síndromes geriátricas e doenças crônicas, controle e prevenção de sintomas complexos, discutir planejamento de cuidados, envolvendo a família na tomada de decisões. “A geriatria e os Cuidados Paliativos têm em comum tentar melhorar, de toda forma, a qualidade de vida do paciente, com um atendimento criterioso e minucioso. O carro-chefe destas duas especialidades é tentar preservar a autonomia e a funcionalidade do paciente”, afirmou Laiane Dias.
O médico Toshio Chiba, explicou que a American Society of Clinical Oncology (ASCO) determina que pacientes com câncer avançado, seja internado ou ambulatorial, devem receber cuidados paliativos desde o início da doença, mas em sua atuação na Interface entre oncologia e equipe de Cuidados Paliativos observou que nem sempre ocorre desta forma. “Os Cuidados Paliativos deveriam ser utilizados em toda a trajetória da doença, mas devido à redução dos recursos, foram amplamente prejudicados. No atendimento, o especialista pode colocar em prática os princípios básicos do Cuidados Paliativo, mas quando a situação exige uma melhor comunicação, é preciso chamar os paliativistas. Precisamos amadurecer a capacidade de comunicação entre equipe médica e paciente”, pontuou Toshio Chiba.
Erika Aguiar Lara Pereira, médica de Família e paliativista, explicou, o Médico de Família cuida desde o pré-natal ao adolescente, e do homem e até o idoso. Para ela as competências do Médico de Família e Comunidades atuante em Cuidado Paliativo e sua interface com equipe de Cuidados Paliativos, precisa ser aprimorado. “Nunca vivemos tanto e por tanto tempo e, consequentemente, estamos mais sujeitos a doenças crônicas. É preciso melhorar o pré-requisito dos médicos que entram no programa. Eles precisam ser mais abrangentes como os de Cuidados Paliativos, incluindo o conhecimento desta área para um atendimento melhor”, concluiu Érika Pereira.
Rachel Duarte Moritz é especialista em clínica médica, medicina intensiva e medicina intensiva paliativa; Laiane Moraes Dias é especialista em geriatria e medicina paliativa pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG); Toshio Chiba é geriatra do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo; Erika Aguiar Lara Pereira é médica com experiência nas áreas de Medicina de Família e Medicina Paliativa. E ambos estiveram entre os palestrantes nacionais do VII Congresso Internacional Cuidados Paliativos da ANCP, realizado entre os dias 21 e 24 de novembro de 2018.