Inspirações Sen Sound
Por Yoko K. Sen – Sen Sound
Sendo uma profissional da música eletrônica ambiente, estar hiper-sintonizado com o som é o maior trunfo para quem tem ouvidos sensíveis. Mas quando adoeci há cinco anos e passei a maior parte do tempo dentro e fora do hospital, esse poder tornou-se um risco: rodeado de máquinas, os intermináveis alarmes e bipes tornaram-se uma cacofonia dissonante e perturbadora que me desgastou.
Fiquei muito perturbada com o barulho, principalmente com aqueles bipes e alarmes. Mas também com os alto-falantes, as pessoas falando e gritando, portas sendo batidas. É um ambiente extremamente barulhento e agitado. E acho que isso realmente me marcou.
Já fora do hospital, comecei a me perguntar como isso deveria impactar a vida e a saúde dos pacientes, e o que poderia fazer sobre isso? Perguntas que inspiraram o projeto Sen Sound. Entrei de cabeça no projeto enquanto artista-residente no Sibley Innovation Hub, uma equipe de inovação incorporada no Sibley Memorial Hospital de Washington DC.
A ideia original era mudar os tons insuportáveis dos alarmes dos monitores para ajudar os pacientes. Mas desde então ampliei minha missão para aliviar também a equipe do hospital. Afinal, para os pacientes, o ruído do hospital pode ser muito incômodo, fazendo com que eles percam os sono, e inclusive impactando em uma recuperação mais lenta. E ainda mais preocupante, para a equipe do hospital que vive neste “mar perpétuo de ruídos” e pode desenvolver a “fadiga de alarme”, que seria uma dessensibilização aos apitos devido à supersaturação do som. Bips e sinais potencialmente importantes se perdem no meio do caos, e isso pode ser muito perigoso.
Ao cuidar das pessoas que se importam com outras pessoas, podemos afetar o sistema de uma maneira melhor. Muitas vezes a experiência dos funcionários é negligenciada. Porém a maneira mais rápida e mais eficaz de afetar a experiência do paciente é realmente melhorar a experiência de enfermeiros e médicos.
Embora o som tenha sido largamente ignorado no setor de saúde, vários estudos destacaram o quão difundida e crônica é a questão. Um relatório da Associação Americana de Enfermeiras de Cuidados Críticos descobriu que de 72% a 99% de todos os alarmes hospitalares eram falsos. Em apenas um hospital – o Johns Hopkins Hospital em Baltimore, Maryland – há uma média de 350 alarmes por paciente por dia.
Um estudo global da Clínica Mayo descobriu que os hospitais se tornaram cada vez mais barulhentos nos últimos 50 anos, com níveis de ruído diurno passando de 57 decibéis para 72 e níveis noturnos de 42 para 60. Segundo a Organização Mundial de Saúde, no período noturno os níveis de ruído não devem exceder 30 decibéis, e exceder 55 pode perturbar o sono e aumentar o risco de doenças cardíacas. Outro estudo analisou especificamente os alarmes que sinalizavam arritmia (um batimento cardíaco irregular) e descobriu que quase 90% eram falsos.
“As enfermeiras começam a assimilar esse ruído. Ele apenas se torna “beep beep, beep beep”, diz Michele Pelter, professor assistente da Escola de Enfermagem da UCSF e co-autor do estudo sobre alarmes e arritmia. “Também sabemos que as enfermeiras estão diminuindo o volume para sua própria sanidade mental e para seus pacientes e suas famílias. Em casos extremos, as enfermeiras desligaram totalmente o alarme”, completa Pelter.
Para encontrar soluções, trabalhei com pesquisadores acadêmicos em psicoacústica e design de alarme crítico para criar sons mais harmoniosos – sem diminuir a sensação de urgência criada pelos alarmes atuais. O resultado é um conjunto de sons que ajudou a empresa de dispositivos Medtronic a projetar o que em breve será lançado no mercado.
Yoko K. Sen trabalha com música ambiente eletrônica e é fundadora do Sen Sound, iniciativa que visa transformar o ambiente sonoro em hospitais. Premiada por diversas associações e organizações musicais, atualmente Yoko faz parte do Citizen Artist Fellow, do John. F. Kennedy Center for the Performing Arts. Além deste projeto, sua iniciativa, “My Last Sound”, traz um reflexão muito importante. Qual o último som que você gostaria de ouvir antes de morrer? Dizem que é a audição é o último sentido que perdemos, sendo assim, qual som você gostaria de ouvir no fim da sua vida. E este é o tema da sua palestra que acontece pela primeira vez no Brasil, mas especificamente em Bauru/ SP nos dias 21 e 22 de setembro na “II Jornada Eduardo Alferes de Cuidados Paliativos”.
Saiba mais no link do evento: http://jornadacuidadospaliativos.com.br/