Pesquisa do Hospital do Câncer Aborda Cuidados Paliativos
Por Thiago Romero
Agência FAPESP – Com o intuito de promover a qualidade de vida de crianças e adolescentes com câncer terminal e oferecer a elas um tratamento mais adequado às suas necessidades, a pesquisadora do Departamento de Pediatria do Hospital do Câncer A.C. Camargo, Andréa Y. Kurashima, desenvolveu uma metodologia inovadora em oncologia pediátrica para estimar, de modo aproximado, a expectativa de vida desses pacientes.
A pesquisadora conduziu, em sua tese de doutorado orientada pela professora Beatriz de Camargo, um estudo com 70 pacientes com câncer pediátrico fora de possibilidade terapêutica curativa atendidos pelo Grupo de Cuidados Paliativos do hospital.
Durante quatro anos, acompanhou os pacientes, que tinham idades entre 0 e 29 anos, para determinar quais fatores interferiam no tempo de sobrevida. A intenção era, por meio de características simples como a prevalência de alguns sintomas, validar indicadores e obter novas informações para estimar o tempo de vida.
Andréa criou uma espécie de escore que quantifica, por meio de notas numéricas, o quadro clínico do paciente com base em variáveis como os próprios sintomas e os tipos de câncer e tumor. A elaboração da contagem se baseia em quatro características, consideradas de alto impacto no tempo de sobrevida das crianças.
A primeira é se o paciente tem diagnóstico de leucemia ou linfoma, duas doenças que foram agrupadas devido aos seus comportamentos clínicos semelhantes no organismo, ou se o diagnóstico é de um tumor sólido. Outra característica é se o paciente é cuidado pela mãe ou por outro membro da família.
“Os pacientes que são cuidados pelas mães normalmente sobrevivem mais tempo. Esse foi um dos resultados de minha dissertação de mestrado, em que analisei 83 crianças para saber quais fatores têm mais impacto na sobrevida dos pacientes”, disse Andréa, que é coordenadora do Curso de Pós-graduação Lato sensu – Especialização em Enfermagem Oncológica da Fundação Antônio Prudente, vinculada ao Hospital do Câncer A.C. Camargo, à Agência FAPESP.
A terceira variável são as atividades dos pacientes em casa para que seus comportamentos e atividades da vida diária sejam avaliados. “Os familiares, que estão 24 horas por dia com o paciente, são as melhores pessoas para nos ajudar a entender a gravidade do problema e como a criança está. Muitos médicos e enfermeiros acabam errando quando classificam um quadro de fase terminal muito mais avançada do que é. Isso porque, na maior parte das vezes, nosso contato fica restrito à hora da consulta”, explicou.
A última característica é saber, por meio de um exame de sangue, se o paciente tem anemia quando se iniciam os cuidados paliativos, que são os procedimentos médicos que não têm intenção de cura. “O paciente anêmico tem características, como cansaço e falta de energia para brincar. Esses dados também nos auxiliam em sua estimativa de vida”, disse.
Sintomas dão pistas
Com a somatória dos pontos dos quatro fatores, os médicos conseguem ter uma probabilidade, em porcentagens, de a criança estar viva em 60 dias após o início da terapia paliativa. “Os dois meses foram estipulados por serem o período ideal para fazer uma programação assistencial mais bem elaborada”, explicou.
“Por outro lado, se a probabilidade for baixa sabemos que temos que correr contra o tempo no sentido de dar suporte psicossocial à família e trabalhar, o mais rápido possível, para resolver os inúmeros sintomas causados pela progressão do tumor ou pelo próprio tratamento. Algumas crianças chegaram a apresentar 22 sintomas de uma só vez”, disse Andréa.
O período que as 70 crianças tiveram de sobrevida variou entre um dia e 39 meses após o início da terapia paliativa. Os principais sintomas apresentados pelos pacientes, que, segundo Andréa, também fornecem “pistas” que auxiliam na assistência médica, foram dor, nervosismo, sonolência, tristeza e falta de energia.
“Essa metodologia, que está sendo aplicada pelo Grupo do Departamento de Pediatria do Hospital A.C. Camargo, nos auxilia a ter estimativas mais confiáveis e diminuir as incertezas, uma vez que, ao saber que se trata de um câncer incurável, instintivamente os familiares querem saber o tempo de vida que o paciente terá”, destacou Andréa.
Segundo ela, a estimativa fornecida pelos médicos, “que muitas vezes é empírica”, encerra uma alta dose de responsabilidade. “Eles se apegam a esse tipo de informação e, quando a morte ocorre antes do que dizemos, a cobrança deles gera situações de frustração para todos os envolvidos nesse processo”, disse.
O Programa de Pós-Graduação da Fundação Antônio Prudente recebeu nota sete, por duas vezes consecutivas, na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Publicado originalmente pela Agência FAPESP – 2008