Reunião Anual MASCC/ ISOO 2019
O evento anual da MASCC (Multinational Association of Supportive Care in Cancer), organização internacional multidisciplinar dedicada à pesquisa e educação em todos os aspectos do tratamento de suporte para pessoas com câncer, independentemente do estágio de sua doença, aconteceu em San Francisco, CA, EUA, entre os dias 21 e 23 de junho de 2019. O diretor administrativo da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) Vítor Carlos Silva, médico intensivista, paliativista e cirurgião oncológico esteve presente no evento acompanhando as discussões realizadas.
Segundo Vítor Carlos Silva, o evento mais uma vez trouxe a oportunidade de encontrar nomes de diversos profissionais que lidam diretamente com a terapia de suporte em câncer em âmbito mundial. “O perfil multiprofissional com o qual a MASCC tem trabalhado expressa a compreensão do modelo atual de suporte em doenças de alta complexidade, nos âmbitos da oncologia, hematologia, cuidado paliativo e profissionais de apoio, em caráter multidisciplinar” pontuou.
O médico informou que diversos temas de interesse geral no que tange ao acompanhamento paralelo desde o diagnóstico, na identificação das necessidades de cuidados, e também incluindo os cuidados do fim da vida foram apresentados incluído tratamento da dor, adequação do uso de opióides e incorporação do uso de canabinóides no controle sintomático, desafios de implementação de modelos sustentáveis que alinhassem oncologia e os cuidados paliativos. Modelos de diferentes países também foram apresentados com objetivo de gerar uma discussão mais ampla do assunto.
O especialista destaca que foi dada atenção especial a dois temas mais específicos, a saúde na era digital e abordagem da sexualidade em pacientes onco-hematológicos. Para o primeiro tema, as discussões sobre inteligência artificial incorporada à prática clinica trouxeram a necessidade dos profissionais estarem atentos aos já demonstrados benefícios trazidos pelo acompanhamento remoto de sintomas e demandas de pacientes e familiares, incorporação de dados a plataformas digitais que viessem a aproximar a assistência clínica da documentação necessária para registro das instituições e suporte em pesquisa. “Por outro lado, a preocupação acerca do custo elevado para a criação e manutenção dos sistemas digitais e acesso atual restrito a uma minoria da população estimulam estudos de custo-efetividade”, destacou o especialista que pontuou como mensagem importante o acompanhamento ativo da equipe multiprofissional no processo de apropriação técnica para uso adequado de sistemas digitais e na monitoração remota, estando a figura da enfermagem como pilar para o eventual sucesso das ações.
Já em sexualidade o médico relata que o tema foi tratado como essencial para a avaliação de qualidade de vida dos pacientes onco-hematológicos, devendo ser abordado pela equipe em qualquer momento da trajetória assistencial. “Compondo aulas da plenária, profissionas da saúde do homem e da mulher expuseram trabalhos em favor da avaliação clínica direcionada não somente às disfunções sexuais que podem co-existir desde o diagnóstico oncológico e piorar com o tratamento antineoplásico, a exemplo de cirurgia, quimioterapia, hormonioterapia, radioterapia, mas também a questões referentes à preservação da fertilidade e mudanças de hábito de vida do indivíduo e do casal. As aulas tiveram sala cheia e discussões produtivas”, enfatizou Vitor.
Segundo o paliativista os Cuidados Paliativos tiveram destaque em aulas de identificação e manejo da náusea induzida por quimioterápicos, monitorização de toxicidade de imunoterapia, panorama de constipação induzida por opióides, triagem para admissão precoce de pacientes a diferentes modelos do consultório ao hospice, e retirada conscienciosa de medicamentos em fim de vida. “Paliativistas também discutiram sobre o impacto que modelos de eutanásia no mundo poderiam trazer para a assistência clínica geral, no que se refere ao devido controle de sintomas e plano avançado de cuidados dos pacientes em sofrimento, por exemplo, ainda que as competências de trabalho sejam diferentes em essência” informou o especialista.
Para o médico o ponto alto dos eventos da MASCC, foram os grupos de estudo atualmente 16 que apresentaram seus trabalhos, em modelo de apresentação em pôster eletrônico ou módulos específicos intercalados na programação. “Os grupos apresentaram suas experiências sob a luz das evidências e da prática clínica de seus serviços, sendo a participação dos grupos de estudos impulsionadora para o desenvolvimento das ações profissionais da terapia de suporte em câncer, incluindo os cuidados paliativos” pontuou Vitor.
“ANCP também acompanha o desenvimento da MASCC, no desejo de estreitar as relações profissionais e interpessoais. Ademais, única foi a oportunidade de reencontrar nomes de grande contribuição aos Cuidados Paliativos, como o Dr. Paulo Pina (Portugal), Eric Roeland e David Hui (EUA), e Camillda Zimmermann (Canadá)” explicou Vitor Silva.
Durante o evento, que contou com profissionais de mais de 70 países, incluindo o Brasil, com uma delegação de 22 participantes, a maioria composta por odontólogos que apresentaram trabalhos relacionados à ISOO (International Society of Oral Oncology), em parceria tradicional com a MASCC, foi anunciado que a cidade de Sevilha, na Espanha sediará a reunião de 2020. A expectativa da Associação é pela incorporação de novos membros, participação de grupos de estudos e ampliação dos temas relacionados à boa prática de saúde para os pacientes onco-hematológicos.
Mais informações em: www.mascc.org