Ribeirão Preto forma rede municipal de Cuidados Paliativos
A Gazeta de Ribeirão Preto publicou, no dia 20 de setembro, matéria sobre a formação de uma rede de apoio municiapal de Cuidados Paliativos, promovida pela USP Ribeirão. O texto segue abaixo.
Na hora mais difícil
Saúde e assistência Grupo do HC capacita profissionais para atuação mais humana a pacientes terminais e seus parentes
Por Laura Aielo
Gazeta de Ribeirão
O Grupo de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas finalizará na próxima semana a primeira capacitação para a Rede de Apoio do Município. O objetivo do curso, que reuniu cerca de 180 profissionais, é humanizar o atendimento de doentes terminais com cuidados técnicos, assistência social, jurídica e espiritual. Segundo a terapeuta ocupacional e coordenadora do grupo, Marysia Mara Rodrigues do Prado De Carlo, embora a medicina tenha evoluído, em algumas situações a morte é inevitável. Apesar da resistência cultural com relação a morte, Marysia ressaltou a importância de oferecer, não apenas aos doentes terminais mas também aos familiares, cuidados técnicos, assistência social e espiritual. “É um desafio falar de cuidado e conforto de quem está morrendo, mas é necessário e a filosofia paliativista visa oferecer conforto e dignidade principalmente na hora da morte”, disse.
E foi com palestras temáticas sobre aspectos físicos, psicológicos, socio-culturais e espirituais dos cuidados paliativos que os participantes do curso esclareceram dúvidas e aprenderam a lidar um pouco mais com a situação terminal, que faz parte do cotidiano. “Em um dos módulos, com temas mais pesados, encerramos com uma dinâmica de grupo para terminar a manhã mais para cima, pois o profissional de saúde também sofre e precisa cuidar de si mesmo, sentir-se motivado e amparado para prestar a melhor assistência possível aos pacientes e seus familiares”, disse Marysia. Música e até um trenzinho fizeram parte da dinâmica.
Segundo a psicóloga Vera Lúcia Soriani, que também faz parte da rede de apoio, é necessário colocar o conteúdo do curso em prática. Mas, mesmo diante da necessidade dos cuidados paliativos, ainda não existe um serviço deste tipo na cidade. Até agora 131 instituições assinaram um termo de concordância com este tipo de cuidado. “São instituições de saúde, redes de assistência social, jurídica e de apoio espiritual”, disse Marysia. Mas o termo não garante a prestação de serviço à comunidade. “Há equipes de saúde que prestam assistência aos pacientes que estão fora de chance de cura dentro de suas possibilidades. Mas temos um projeto piloto com previsão para começar no início de 2010.”, afirmou.
Falta estrutura ao atendimento
Apesar da boa adesão às primeiras palestras de capacitação no Hospital das Clínicas, a quantidade de profissionais ainda é pequena para atender a demanda de casos de doentes terminais. Segundo a coordenadora do grupo, Marysia Mara Rodrigues do Prado De Carlo, há um número grande de pessoas precisando dos cuidados paliativos. A garçonete Cláudia Rodrigues Vieira sentiu falta de pessoas próximas e de mais amizade enquanto acompanhou o marido internado. Ela disse ainda que no hospital e também quando o marido voltou para casa, um dos objetivos dos cuidados paliativos foi importante para que ele tivesse uma morte mais tranquila. “Ele sempre tinha medicação para não sentir dor.” Marysia afirmou que pessoas com câncer ou com outras doenças crônicas “têm lotado os hospitais gerais e, muitas vezes, estes doentes não podem receber alta por motivos sociais.” Para o geriatra Paulo Fernandes Formighieri, que participou da capacitação, a resistência dos profissionais também pode dificultar o atendimento ao grande número de pessoas que precisam desses cuidados. “A maioria dos profissionais é resistente, não tem a menor proximidade com os pacientes e não tem a menor vontade de ter”, disse. Segundo Marysia, ainda há resistência, mas muitos já reconhecem a necessidade do procedimento. “Várias pessoas dizem que não conseguiriam, mas não negam a necessidade.” (LA)
A FRASE
“O número de pessoas com doenças fatais cresce e com isso as políticas públicas tornam-se tão necessárias.”
Marysia Mara Rodrigues do Pardo De Carlo
Coordenadora do Grupo de Cuidados Paliativos
ADESÃO
131 Instituições concordaram em realizar cuidados paliativos