Rob George propõe mudanças constantes para finalizar bem a vida
O professor Rob George, diretor médico do St. Christopher Hospice, no Reino Unido, que é o Centro Médico pioneiro na utilização dos Cuidados Paliativos no mundo, ao falar sobre o tema: “What we have learned and how did we overcome our challengers?” (“O que nós aprendemos e como vencemos nossos desafios?”), afirmou que todos nós podemos implementar mudanças em grande escala, porque precisamos constantemente mudar, refrescar o que pensamos e o que fazemos.
Atualmente, uma das perspectivas do Reino Unido, a fragilidade é o que está presente sempre. Ela não respeita idade, apesar de estar associada a uma idade mais avançada.”Pensando no estilo de vida das pessoas e os problemas gerados por este estilo de vida, a gente vê que a fragilidade está muito mais presente do que só a idade avançada. Nós no Reino Unido temos que responder a uma população em mudança e temos de fazê-lo de forma eficiente e efetiva por causa de questões financeiras e recursos. Se a gente continuar fazendo as coisas da forma como fazíamos antes em termos de fragilidades, nossos serviços vão entrar em colapso”, disse Rob George.
O médico informou que no St. Christopher, no início do projeto de insuficiência cardíaca, foram melhorados alguns pontos de ação. Também foi criado um banco de projetos com a ajuda da equipe de Tecnologia da Informação (TI), que está fazendo uma grande diferença na prática médica, permitindo disseminar o conhecimento, ensinar muito mais pessoas, supervisionar e dar apoio de uma forma mais extensa. O hospital também está desenvolvendo parcerias nas comunidades com outras especialidades, mais especificamente com grupos voluntários. “As pessoas não querem mudar porque acham tudo muito complexo. Todos nós temos que entender que essa resistência está nos nossos genes, mas as situações são diferentes. Se a gente olhar com cuidado, em 2050, quase um quarto da população do Reino Unido (21%) vai ser idosa. Em 2030, ela já terá atingido 15%. O Brasil, daqui a 25 anos, vai estar nesta situação vivida hoje pelo Reino Unido, com uma grande população de mais velhos”, explicou Rob.
No projeto de fragilidade do St. Christopher, Rob informou que foi identificado que o número de encaminhamentos que chegava ao hospital era muito alto. De agosto de 2017 a agosto de 2018, o número de casos passou de 220 pacientes para mais de 350, mantendo a mesma equipe. “Quando eu cheguei à organização, analisei os pacientes e questionei se precisavam de todos os serviços oferecidos. Fiz uma triagem e eles foram orientados a ligar para o hospital caso precisassem. Muitos não ligaram e numa emergência foram direto para outro hospital onde morreram. Isso acontece porque se trata de uma população bem diferente. “O que a gente tem de pensar é que quando as pessoas jovens ficam doentes elas pegam o telefone e pedem ajuda para os pais, mas os mais velhos não fazem isso”, pontuou.
Segundo o médico, se for perguntado a idosos e fragilizados o que importa para eles, as respostas serão diferentes. Por exemplo, o oncológico vai dizer “eu quero me lembrar sempre de quem eu sou, eu preciso ser capaz de olhar para o meu passado e entender que ainda sou a mesma pessoa”. No caso das pessoas mais velhas ou mais frágeis, elas precisam equilibrar constantemente a vida, segmentar as perdas e recontar sua história de forma fácil para que ela continue a fazer sentido. “Quem trabalha com geriatria sabe que a solidão é uma doença fatal. As pessoas solitárias morrem mais cedo do que as que não são solitárias. Se for feita uma intervenção social, o prognóstico será mudado. Se, além disso, forem colocados em prática os Cuidados Paliativos, será oferecida uma experiência completamente diferente para essas pessoas”, explicou Rob George.
Ele reforçou que a idade avançada não é uma doença. Quando a pessoa fica mais velha vive uma espécie de tensão. Na verdade, é uma questão de força, resistência e sobrevivência, triunfando sobre todos os tipos de vicissitudes, decepções, tentativas e doenças. É preciso que as equipes de saúde tenham planejamento paralelo para lidar com essas incertezas e os vários problemas que irão surgir. “Quando se lida com pacientes é preciso ter diferentes expertises, procurar informações com os colegas da geriatria, equipes de medicina da família, enfermeiras da comunidade, assistentes sociais e até mesmo os vizinhos. Esse é o momento que a gente chama de “espera atenta”, em que a gente entra em contato com as pessoas e profissionais que estão próximos e atentos ao paciente. É mais indicado do que levar a especialistas diferentes que vão criar novos problemas. Não é assim que deve ser”, afirmou George.
No St. Christopher, as equipes utilizam ferramentas estabelecidas que ajudam a avaliar a complexidade, as dependências e necessidades de cada paciente. A mudança de linguagem foi a maneira encontrada para ajudar as pessoas a entenderem o que está acontecendo e seu problema. Também, de acordo com os estágios em que o paciente se encontra são definidos diferentes tipos de atenção e intervenções, desde um encontro com a família ao atendimento de um médico específico da equipe, como um fisioterapeuta. Com base nisso são definidos os procedimentos a serem oferecidos ao paciente.
Hoje as equipes do hospital se movimentam pelas diferentes partes da organização, estão mais dinâmicas, mais responsivas e as autoridades de cada equipe vão entender do problema em si. Essa autoridade não precisa ser o médico, pode ser a assistente social ou enfermeira, quem tiver a expertise mais necessária para cada caso. Isso requer que estas pessoas sejam competentes, bem treinadas, capacitadas. “Dessa forma, é gerado um tipo de desempenho e consegue-se fazer com que pessoas que ‘acham que são competentes’ vejam que ‘são competentes’. Hoje temos os líderes fazendo pouco, mas as equipes funcionam bem, independentes, sabendo com quem conversar. Parece uma prática arriscada, mas funciona de maneira muito mais eficiente”, garante Rob George.
O médico explicou que, quando os pacientes chegam ao hospital é criado um perfil que vai definir as fases a serem aplicadas, permitindo entender quem são aquelas pessoas, quais seus desejos, suas necessidades e a dos cuidadores e a complexidade do caso. “Se a gente não diferenciar os indivíduos, vamos ter uma sobrecarga de pacientes, o que é ruim para todo mundo. Felizmente, quando trabalhamos o projeto fragilidade, exploramos os nossos erros e aprendemos com eles. Não aprender com o que não deu certo é não se levantar e buscar uma maneira de fazer corretamente” explicou Rob.
Rob George mostrou que ao adotar todas estas mudanças, o que se verificou no St. Christopher foi um aumento na qualidade de vida dos pacientes, melhoria para os cuidadores, queda de um terço nas internações e o hospital ainda conseguiu pagar o projeto e financiar outro projeto. “É preciso ter coragem de tentar” concluiu Rob George.
Rob George é médico, diretor médico do St. Christopher Hospice no Reino Unido, e Professor Honorário do King‘s College London e Cicely Saunders Institute. E esteve entre os palestrantes internacionais do VII Congresso Internacional Cuidados Paliativos da ANCP, realizado entre os dias 21 e 24 de novembro de 2018