O serviço de Cuidado Paliativo do Hospital das Clínicas de São Paulo
O serviço de Cuidado Paliativo, no formato atual, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo existe desde 2012. Segundo seu coordenador, o médico Ricardo Tavares de Carvalho, o trabalho começou em 2010 com levantamento de necessidades e de indicadores gerenciais que pudessem convencer os gestores de que era uma prática desejável e útil, e também que pudesse de alguma forma melhorar a distribuição da aplicação do recurso naquele hospital público. “Isso foi feito ao longo do ano de 2011 com uma parte em 2010 enquanto eu fazia o atendimento da demanda espontânea que existia. A partir da demonstração desses dados houve um convencimento da Diretoria de que era necessário existir um serviço dentro dos moldes que nós tínhamos preconizado”, explica.
A equipe do serviço de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas tem como principal diferencial o de ser uma rede de assistência. Conta com uma equipe de reconhecimento (grupo de interconsulta), que identifica,dentro da demanda espontânea das diversas clínicas, quais são os pacientes com necessidades e indicação de Cuidado Paliativo. Esses pacientes podem ser cuidados no local onde estiverem ou serem encaminhados para uma unidade de internação específica ou, após a alta, para a unidade ambulatorial. “Eu não creio que conseguiríamos fazer um serviço de cuidados paliativos que atenda às necessidades dos pacientes ao longo da trajetória da doença se a gente não tivesse pelo menos esses três pontos. Considerando todos os setores temos mais de 45 profissionais na equipe”, pontuou Ricardo Tavares.
Além disso, a equipe conta com uma unidade de serviço de atendimento domiciliar e uma controladoria por telefone, um gerenciamento da rede. Trata-se de uma assistência pela qual são controlados ativamente os pacientes que estão fora do hospital e que têm acesso a equipe. “Pelo atendimento telefônico é possível definir o adiantamento de consulta ambulatorial, ou até eventual necessidade de internação para avaliação e/ou tratamento. Isso evita que o paciente venha ao pronto-socorro e seja atendido fora da lógica e do olhar do paliativista. Desta forma podemos corrigir ou ver problemas com receitas sem que o paciente tenha que marcar outra consulta. Pelo telefone tentamos agilizar e facilitar os fluxos e o controle dentro do sistema, um diferencial de uma rede com controladoria telefônica”, destaca o médico.
Segundo Ricardo, a partir de 2014 passou a existir dentro desse sistema duas residências: uma residência médica de medicina paliativa e uma residência multiprofissional de Cuidados Paliativos com profissionais de enfermagem, psicologia, serviço social, fisioterapia e odontologia, um total de 24 residentes de cuidados paliativos e cerca de mais 12 residentes de outras áreas que circulam todo mês no núcleo. “Trabalhamos nessa estrutura ligada a Diretoria Clínica e executiva do hospital, ancorados na disciplina de geriatria do ponto de vista acadêmico científico”, explica.
O núcleo atende aproximadamente, de 900 a mil casos novos de interconsulta por ano. Na unidade de internação, conta com 8 leitos que são mantidos quase sempre cheios dada a demanda, com uma taxa de ocupação maior que 80% ao mês, o ambulatório atende quatro períodos da semana, são em torno 15 salas de atendimento ambulatorial, que por semana atendem por volta de 60 pacientes que recebem atenção multiprofissional, ou seja, com a presença dos profissionais da equipe que se fizerem necessários, inclusive dentista. “No ambulatório o paciente passa por mais de um profissional e, por isso, o atendimento tem uma duração maior, para que possamos tentar resolver os problemas do paciente enquanto ele está aqui, evitando que ele precise vir várias vezes, pois normalmente eles têm dificuldade de locomoção, com grau de dependência pelo menos razoável” pontuou o Ricardo.
O médico explica que existem fluxos determinados e critérios específicos para que os pacientes ocupem os leitos de internação do núcleo. Além disso, informa que é realizado um trabalho voltado para o cuidado com a própria equipe, e para com esses residentes, contando com ações de Terapia Assistida por cães, Clown (Equipe Trupe Cali) e ações com atores da ONG Arte de Despertar. “Desta forma nós podemos olhar para o próprio trabalho e tentar ter um espaço para poder, com outros colegas, e com atenção especializada, contando inclusive com o apoio de psiquiatras (para os residentes), atender as demandas pessoais de cada um. A equipe que atende fica envolvida na situação de sofrimento, tanto quanto os pacientes e suas famílias”, reforçou.
Segundo Ricardo, o principal desafio do serviço é a complexidade crescente e expandir a capacitação para a graduação. Temos uma Liga acadêmica de Cuidados Paliativos mas queremos fazer parte das disciplinas da graduação de Medicina e das outras áreas da saúde. Além disso, a crise econômica impacta na dificuldade de contratação de mais pessoas, a principal ferramenta de trabalho.
Outro desafio que se colocou ao longo do tempo e que a equipe vem tentando sanar é a organização e criação de processos operacionais padrão de fluxos com critérios para unidade de internação, para transferências e remoção de pacientes, e de encaminhamento para ambulatório. “Hoje eu recebo pacientes do ambulatório provenientes de qualquer clínica. Tenho uma fila de espera que é relativamente pequena, pois conseguimos ser ágeis nesse atendimento, mas existem diversos gargalos, pois é uma rede complexa de atendimento e existem os pacientes que precisam conseguir circular por essa rede dentro de cada uma das necessidades que ele tem a cada momento. De acordo com o processo de evolução da doença, as necessidades dos pacientes vão mudando e precisamos estar adaptados, como estrutura, para atender a todas elas ” explicou.