Vamos falar de cuidados paliativos?
O manual Vamos falar de Cuidados Paliativos, lançado na segunda-feira (25), traz uma questão que a população brasileira ainda é relutante em discutir: falar sobre cuidados de final de vida. O material é baseado no documento Let’s Talk about Palliative and Hospice Care, da Ohio Health,instituição de referência em Cuidados Paliativos nos EUA. O texto original foi traduzido e adaptado para uso no Brasil pela Comissão Permanente de Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Segundo Daniel Azevedo, geriatra e presidente da Comissão, o objetivo da publicação é trazer informações introdutórias sobre o tema para profissionais da saúde ou familiares que queiram entender a filosofia e o histórico dos Cuidados Paliativos.
“Além de uma visão geral do assunto, a cartilha traz também reflexões sobre a aproximação entre geriatria e cuidados paliativos e sobre paliação em idosos. Ela conta, ainda, com orientações sobre diretivas antecipadas de vontade e sugestões de leituras complementares”, explica Azevedo.
O especialista acrescenta que falar sobre final de vida ainda é um desafio, já que é natural ter medo e até desconfiar daquilo que desconhecemos – a dificuldade de se abordar o tema é encontrada tanto entre os pacientes quanto entre profissionais. Para o geriatra, está na hora de falar abertamente sobre Cuidados Paliativos.
Ao contrário do que se pensa, os cuidados paliativos não se limitam ao câncer. Doenças crônico-degenerativas, como demência, síndrome de fragilidade, doença renal crônica, insuficiência cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica, também têm indicação para cuidados paliativos. Segundo Azevedo, é fundamental que os profissionais reconheçam essa indicação para prestar uma assistência paliativa adequada a seus pacientes, respeitando suas biografias e preferências.
“Não são cuidados de menor importância ou ‘cuidados para pessoas que estão morrendo’. São cuidados que permitem que pessoas com doenças incuráveis, que ameaçam a continuidade da vida, vivam da maneira mais plena possível. Para isso, é importante promover a autonomia das pessoas doentes e maximizar sua independência, através da comunicação franca com a família e de um bom controle de sintomas”, esclarece.
Para Azevedo, o principal obstáculo à implementação e ao crescimento dos Cuidados Paliativos no Brasil é a ausência da disciplina nos currículos do profissionais da saúde, que continuam sendo treinados para manter a vida a qualquer custo, mesmo que isso implique sofrimento.
A carência de profissionais especializados também é evidente. São poucos os centros de formação e treinamento em Cuidados Paliativos no Brasil.
Outro obstáculo importante é a relutância da sociedade em discutir a morte e a terminalidade. “A percepção de que todos são finitos deveria motivar as pessoas a redigirem suas diretivas antecipadas de vontade para garantir que, mesmo em situações imprevistas, como um acidente grave com sequela neurológica irreversível, por exemplo, seus desejos sejam respeitados”, completa Azevedo.
O material ajuda a encarar a discussão sobre preferências de cuidado, e sobre a morte, para a sociedade. Isso permite que as pessoas se programem melhor para o que vem adiante, tanto para eventos previsíveis quanto para surpresas. pode ser baixado gratuitamente e compartilhado por todos que se interessarem.
Clique aqui para ter acesso ao manual.
Por Fernanda Figueiredo, com SBGG